sábado, 6 de agosto de 2011

Estas crônicas se atrasaram ao devido motivo: a autora arrancava os cabelos, tentava assobiar, chupar cana e escrever os trabalhos de mestrado ao mesmo tempo. Mil perdões.

Sou brasileira e as vezes assisto novela



Outro dia estava escrevendo um email para um amigo indiano e, contei a ele que há mais ou menos um ano e meio atrás, a Índia estava (ainda mais) na moda por causa de uma novela que se passava parte aqui, parte lá. Não dei detalhes, não contei a trama ou nada disso. Disse apenas que, embora eu não saiba muito sobre o país dele, creio que a autora colocou (como era de se esperar) um bando de clichês, todos juntos. O paralelo que pude fazer foi que, eu acreditava que era um pouco como os filmes de Bollywood, as roupas e jóias espetaculares, a música, as danças, o amor proibido entre pessoas de castas diferentes, guardando as diferenças da parte da novela que se passava no Brasil.

Deixou-o reticente o fato de eu ter mencionado uma novela e não um filme, um livro, até mesmo uma música ou um estilo de vida, peregrinação ou qualquer coisa mais moderninha e que lembre Índia. Precisei explicar que isto estava numa memória mais ou menos recente e sobre a cultura das telenovelas brasileiras.

Sem nunca esperar que um dia eu faria isto, me vi escrevendo e descrevendo a atração das novelas, o papel sócio – cultural que desempenham, o fato de serem produções tradicionais da televisão brasileira capazes de abordar diversos tipos de assuntos, que são diferentes das telenovelas hispânicas (bregas, com péssimas atuações e melodramáticas demais) e das americanas (que duram anos a fio, com um elenco renovável, mais ou menos como a Malhação).

E já que eu toquei no assunto de No Camino das Índias (claro que não disse que o nome da novela era este), eu acabei falando sobre o trabalho da Glória Perez, dizendo que ela tinha o costume de procurar saber (e mostrar) outras culturas: A Índia e um pouco do hinduísmo (deixando de lado o fato de que todo o elenco masculino indiano da novela era composto de homens brancos), o Marrocos e o islamismo, imigrantes tentando ultrapassar a fronteira dos Estados Unidos, ciganos... Quando dei por mim, estava quase defendendo a Glória Perez. De que, é que eu não sei explicar.

Conforme fui crescendo, e me interessando por “coisas sérias”, era natural que as tramas televisivas da TV aberta perdessem espaço. No seu lugar, entraram as sitcoms de comédia, durante a adolescência, quando eu precisava relaxar e as séries policiais (Law and Order, Law and Order SVU, Criminal Minds, e afins), dramas (House, Dexter e por aí vai) e o canal de notícias, uma vez ou outra. Muitas outras vezes, a TV fica ligada somente por força do hábito, para acompanhar a leitura.

No entanto, toda a noite, depois do jantar e do Jornal Nacional, as famílias das mais diversas classes sociais se sentam à sala para assistir Insensato Coração neste momento, por exemplo. A Duas semanas (e mesmo antes) de seu fim, as pessoas mais impensáveis andam declarando em redes sociais que vão sentir falta da novela que tem posto um pouco mais de adrenalina na casa de todos nós. Mesmo quem não assiste à novela, pergunta vez ou outra, timidamente, a quantas anda o plano da “dona” Norma (que virou ícone!).

A telenovela é uma fonte de cultura tão arraigada nas pessoas, aqui que eu me senti quase na obrigação de falar bem, ainda que eu não goste. Mas, como posso dizer isto se, toda noite, agora, depois dos chatos meses iniciais em que eu somente de passagem pela sala reclamava da programação escolhida, nem como antes das 22:30 hrs?