sábado, 25 de junho de 2011

A mãe

É engraçado quando se tem alguma grávida em casa ou na família. Digo, na família próxima. A grávida se torna o centro de tudo e todos, porque ela não é mais um, não é mais una. É ela e plus one. Todo mundo que é mais novo ou que nunca teve filhos, entra num pânico momentâneo (que pode se estender desde o começo da gravidez até os primeiros meses de vida da criança) e simplesmente não sabe como lidar. Ou acha que a mulher continua a mesma e pode fazer quase todas as mesmas coisas que fazia normalmente, tenta ignorar uma suposta situação incômoda, mesmo testemunhando ventre e seios cada vez maiores ou fica a cada cinco segundos perguntando se está tudo bem, se ela precisa de alguma coisa, qualquer coisa. É só chamar.

Só os médicos se referem à crianças não nascidas como feto. Desde a mijada no palitinho ao teste de sangue, a suspeita toma o nome de neném. O feto, futuro neném, já é neném enquanto mal tem órgãos e flutua dentro do útero. As vezes, antes mesmo do primeiro exame, da primeira ultra, ele ou ela, senão tem nomes tem várias especulações de nomes. Que tal Otávio, se for menino? As pessoas falam com o neném, sobre o neném e para o neném. Afinal, de alguma forma, mesmo envolto dentro de várias camadas e dentro do corpo de uma pessoa, ele já está entre nós.

Todos os papos na presença da grávida se resumem à sua futura vida, as misérias pelas quais ela possa estar passando, enjôos, vontades, desejos, engorda, preocupações, exames, precauções, parto, resguardo, e as mais diversas nojeiras e mil e um conselhos de todos os que já tiveram filhos, porque, crianças são sempre uma benção. Quem não tem o que dizer, quem não sabe o que dizer e quem não quer ouvir, melhor pegar o maço de cigarros e ir dar uma volta, parar no primeiro bar, pedir uma cachaça – pura – e se sacudir.

Logo, logo, assim que vier o parto e aquela sua pessoa querida der a luz ao neném, ela deixará de ser uma pessoa para se tornar: mãe. Para sempre, ela vai ser mãe, esteja o filho longe ou perto, morto ou vivo. Mãe, não é que nem esposa, não é um título do qual se possa abrir mão. Todas as pessoas esqueceram o nome da mãe. Do ginecologista e obstetra, às enfermeiras, da babá às professorinhas da creche, do pai e do filho e até para o resto da família, nome dela se esvai naquele choro persistente e então, pedem, encarecidamente a ajuda da mãe.

- Mãe, será que, a senhora não poderia. Mãe, mãe, mãe. Isso, até o neném começar a falar e demandar também ele, a plenos pulmões, aquela pessoa que para ele, tem um nome que não é o dela, a mãe lutando para manter a identidade enquanto todos a colocam no papel que lhe caberá. Fulana, mãe de do neném tal.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Apresentação



Inspirado no meu lugar de fixação: o quarto. O lugar de onde provavelmente escreverei toda semana. Sem um compromisso fixo com UM dia da semana mas, toda semana. Crônicas semanais vindas de um quarto de empregada - o meu temporário quarto de empregada.

Percebi que não ando escrevendo com disciplina ou regularidade, pelo menos com a disciplina e regularidade que posso manter. O resultado disso é que meu trabalho pode ter ficado estagnado ou pode ter atrofiado. Eu já queria estar escrevendo longas narrativas, ter um trabalho mais consistente. Não é preguiça, é outra coisa. Vamos tentar driblar a outra coisa.
O Rio de Janeiro, os academicismos, Literatura e Artes, internet, redes socias, pessoas, músicas, shows, amores, desencontros, familiaridades, remédios, doença e tudo o que couber nesse quatroporquatro sem janelas e com a cama sempre desfeita.
Aceitam-se crônicas de outros quartos. Boa noite.

p.s. em tempo: para matar a curiosidade, o quarto de empregada - que existe, abarrotado de coisas e caos, será posto a limpo. Livros e mais livros e toda a bagunça (na qual me acho) prometida.