terça-feira, 12 de julho de 2011

Uma, nenhuma, cem mil

Precisei buscar no meu falecido fotolog uma foto minha (antiga, é claro) para ilustrar a crônica desta semana: um episódio digno de ficção, daquelas coisas que as pessoas lêem (ou escutam) e pensam: como é que pode, isso só acontece com você!

Ontem, durante um breve tempo (alguns minutos, eu acho, como sempre eu não sei precisar tempo), de madrugada, entre um bocejo e outro, um homem, do qual eu não tenho nenhuma lembrança veio falar comigo no chat do Facebook. Se me perguntarem quem é, a única resposta que tenho para dar é: não tenho a menor idéia. Eu não lembrava mesmo do cara, não me lembro de ter nem lido o perfil dele (porque não o conheço e nem me interessa), só sabia que ele não era um amigo. Um amigo que se pudesse chamar de algo próximo.

Então, oi,oi, tudo bem – pergunta de praxe a minha porque não estava com vontade de conversar com desconhecidos, já estava ficando com sono, imaginei que eu fosse receber um “tudo” de volta e morresse por aí. Antes fosse. A resposta já fugia do usual, dizendo que tudo era muita coisa. Eu concordo, realmente, tudo é muita coisa para estar bem mas naquela altura, só pude pensar: ai, não... outro daqueles metidos a pensadores, olha, tem a barbinha do Che Guevara e tudo! Puta que me pariu! Eu mereço!!!” Seguiu-se a isso uma série de elogios despropositados dizendo primeiro que eu era linda, depois, que eu era “Almodovar”, o que quer que ser Almodóvar queira dizer – e olha que não é a primeira vez que ouço/leio isto - “eu já te amo” e para arrebatar antes de eu retomar o fôlego...o ouro assim, meio tímido: assim, você tem nariz. Mulheres precisam ter nariz. Para tudo que o cara que está dando em cima de você aleatoriamente na internet acaba de te chamar de nariguda.

Pausa para o recado: Queridos rapazes, se vocês desejam expressar o quanto uma mulher é bonita destacando algo do rosto dela, fale dos olhos, fale da boca, do sorriso, da pele. São clichês mas funcionam, a mulherada se derrete, mesmo que seja mentira. Não fale nunca do nariz. Nenhuma mulher gosta do próprio nariz, a não ser que tenha feito plástica ou ele tenha nascido lindinho e arrebitado.

Não mencionei que antes disso tudo ele me perguntou quem eu era. Eu só consegui responder depois dele ter vomitado as palavras em cima do pc dele para o meu. Respondi com um “quem é você” em caixa alta porque, afinal das contas, ele que tinha vindo falar comigo. Agradeci os elogios como uma boa moça – ele negou que tivesse me feito algum e disse que era um bosta. Bem, não pude discordar.

Então acho que o tico e teco dele resolveram passear e ele só falava em monossílabos, me chamou pelo meu nome – alguém já viu uma pessoa que nunca te viu na vida querendo dar uma certa intimidade na mensagem tacando seu nome no meio dela? Pois é. Perguntou aonde, se no Rio, que adora o Rio, Leme, Santa Tereza, tem amigos. E eu com isso?

Na sequência: músicos, atores, escritores (eu). O Rio é demais! Isso no meu décimo quinto bocejo já preparando a despedida do maluco que se esqueceu como se conversa. E então ele me pergunta se eu conheço Porto Alegre. Disse que não porque meu resto de família do sul não mora em Porto Alegre. E ele perguntou mora onde, não entendi se a pergunta se referia à mim ou ao meu resto de família sulista. Preferi que a pergunta fosse sobre eles e disse que não sabia, que nem tinha contato e que se espalharam pelo interior. A resposta real é: eu não ligo. Tios e tias avós que nunca vi na vida e que nunca me viram também.

O homem disse que eu tinha cara disto. Quando um homem diz para uma mulher que ela tem cara de alguma coisa, nunca é coisa boa. O pior é que eles acham que é e as mulheres precisam se preparar para o chumbo grosso que estar por vir. Provavelmente um palavrão. Perguntei, o que mais eu podia fazer? Eu tenho cara de bastarda. Então é isso... eu sou uma nariguda com cara de bastarda. Meus dois pais estão em Vila Isabel, vivos, divorciados, ok. Eu não tenho exatamente uma relação ótima com nenhum dos dois mas eu sou a primogênita de ambos. Ninguém finge que eu não existo, ainda. Não sou bastarda. Eu tenho um lugar, talvez não seja o melhor lugar para mim ou o lugar que eu queira ou que me identifique, mas tenho. Não falei que vinha merda? Eu avisei. Meu último “você tem cara de” foi na Bunker há cinco anos atrás e eu ainda não me recuperei.

Isso me lembro do Um, nenhum e cem mil do Pirandello, ótimo livro. Livro sobre o qual eu preciso fazer uma monografia de mestrado e que começa justamente com uma observação sobre um nariz. Nem perdi tempo recorrendo ao espelho para despertar o Vitangelo Moscarda existente em mim. Essa não é a primeira observação não lisonjeira que meu nariz recebe. Já ganhei “o seu nariz é meio batatinha”, da minha mãe e “você tem nariz de judia velha” de uma ex-atual paixão. Para que colocar meu mundo de cabeça pra baixo por causa disso? Eu não gosto e nem desgosto dele – e o fato de eu ter dois piercings no nariz, não é para enfeitá-lo ou para chamar mais atenção para ele, eu gosto dos piercings, o nariz podia ser melhor. As pessoas que falam comigo podiam ser melhores, eu mesma poderia. Atitude bastarda? Pode ser.

E o moçoilo? Ficou a me mandar vídeos e a dizer que sou linda linda e linda enquanto me despedi educadamente e com aquela famosa promessa de carioca que não será cumprida.

2 comentários:

  1. Insólito! Cheguei a rir em alguns momentos, rs. Que figura e que conversa. Eu fico me perguntando qual o é o objetivo de uma pessoa dessa? O que pretende com essa conversa estranha? Talvez não perceba quão estranha é essa conversa, né? Vai ver, é isso.

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  2. é, eu sou engraçada nessas ocasiões pq esse tipo de coisa acontece muito comigo. mesmo. eu acabei de abrir um email que é um pedido de casamento de um francês, quer dizer...
    na minha opinião, o cara tava drogado, ngm consegue não manter uma conversa e ser tão sem filtro dessa maneira se estiver sóbrio/careta ou não tiver um distúrbio serissimo de personalidade.
    segurei a vontade de puxar conversa com ele outras vezes pra ver se iriam sair pérolas parecidas.

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